Advogado em Moçambique há quase 10 anos, Carlos Freitas Vilanculos conhece o mercado local e acha que este é um “excelente momento para retomar projectos e investimentos suspensos”, depois do fantasma da descoberta das dívidas ocultas. Em entrevista ao Jornal Económico, o responsável pelo escritório parceiro da MC&A afirmou que “a situação política e sócio-económica do país já esteve pior do que a actual”.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um crescimento de Moçambique de 5,3% para 2018, mas continua de pé atrás em relação ao apoio ao país enquanto não for resolvida a questão das dívidas ocultas, estimadas em dois mil milhões de dólares (cerca 1,7 mil milhões de euros).

“As dívidas continuam a ser uma sombra para a economia nacional, bem como para todos os moçambicanos. Temos esperança de que rapidamente sejam esclarecidas todas as dúvidas e apurados os responsáveis”, argumenta, acrescentando que parceiros internacionais se ressentiram e suspenderam apoios ao governo.

O advogado, que presta assessoria jurídica a operações de financiamento e M&A no país, confessa que, durante o período de maior crise, sentiram diversas vezes o feedback negativo por parte dos clientes, fruto da falta de liquidez financeira. Enquanto assessores jurídicos, procuraram mostrar que investir fora da Europa é sempre um risco, acreditando, por outro lado, que outras oportunidades iriam compensar o negócio.

Para a equipa local da MC&A, a produção de carvão e o aumento da grafite e das pedras preciosas serão motores de arranque da economia no próximo ano. “Hoje, o cenário é de recuperação e de esperança para todos os players, e Moçambique está num excelente momento para retomar os projectos e investimentos suspensos”, assinala o advogado. Ainda assim, Carlos Freitas Vilanculos diz que Orçamento do país para 2018 “é mais platónico do que realista considerando que o metical continua instável face ao dólar e ao rand”.

Enquanto a economia ainda recupera do encarecimento dos produtos básico e do crescente número de refugiados, depois dos confrontos entre o governo e a Renamo, fluem os acordos no sector energético. Daqui a cinco anos deverá começar a produção da exploração de gás natural no país, um dos saltos importantes no Oil & Gas. Na Bacia do Rovuma, está entregue a um consórcio formado pela Eni East Africa (70%) e pela Galp, Empresa Nacional de Hidrocarbonetos de Moçambique e Kogas (10% cada). Carlos refere que a “assinatura destes acordos entre o governo e as concessionárias inclui licenças especiais que beneficiam as multinacionais Eni e Anadarko”.

Reeleição de Filipe Nyusi

Reeleito em Setembro, presidente Filipe Nyusi apresentou o Comité Central da Frelimo com um discurso que Carlos caracteriza dos “mais desafiadores do partido, virado para a vanguarda” e voz dos seus problemas internos. O povo está esperançoso de que em breve existirão “medidas concretas para combater a corrupção”.

No país que está no ‘top 3’ de países lusófonos com a população mais jovem, quem parece esquecida é esta faixa etária. Para o líder da CF&A, os jovens que compõem o actual governo têm pouca capacidade decisória e iniciativa ‘casa jovem’ foi um fracasso. “Os jovens mobilizaram os seus pacatos fundos para concorrer a uma habitação e, até ao presente momento, nenhuma casa foi disponibilizada”, explica.


Jornal Económico, 13-11-2017

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