O mercado angolano continua a atrair os investidores estrangeiros, numa altura em que o país procura inverter a balança comercial com a aposta em sectores não petrolíferos como a indústria e a agricultura.

A afirmação é de Vítor Marques da Cruz, sócio fundador do escritório de advogados MC&A, que agora integra a aliança internacional MC Valois Miranda, presente em vários mercados africanos, em Portugal e no Brasil.
Citado pela imprensa lusa, o advogado acredita que 2017 pode ser o ano dos investimentos “em áreas que até agora têm sido descuradas” por um país sobretudo importador. “A tendência pode ser contrariada desenvolvendo outras áreas, sobretudo a indústria e a agricultura”, referiu.
Para Vítor Marques da Cruz, Angola pode inverter a balança comercial, embora a transição venha a levar “entre cinco e dez anos a ter um efeito expressivo na economia”. Em relação a negócios com Portugal, o advogado diz-se pouco optimista: “As empresas portuguesas foram das que mais investimento fizeram em Angola e as primeiras a chegar depois da guerra civil. Mas também foram as primeiras a pagar o preço da instabilidade financeira e da crise das divisas.”
O advogado analisa os grandes desafios enfrentados por Angola, Moçambique e Brasil, os três mercados mais importantes para a MC Valois Miranda “em termos de dimensão do negócio, económicos e de população”, e considera que, sobre Angola, apesar da crise que o país tem atravessado, “o interesse dos investidores parece não ter diminuído”. Até a “situação da moeda” – a insuficiência de divisas para fazer pagamentos em outras moedas, além do kwanza – permitiu fazer uma “triagem” que resulta “num investidor melhor”.  Segundo Vítor Marques da Cruz, a crise “separou os que viam Angola como o ‘El Dorado’ onde podiam ganhar dinheiro a muito curto prazo, dos que têm interesse efectivo em desenvolver um negócio a médio e longo prazo”. O facto de muitas empresas portuguesas, “para não dizer praticamente todas, terem perdido dinheiro”, fez com que o mercado angolano tenha deixado de ser um “favorito” dos investidores portugueses.

Moçambique em destaque

O advogado acredita que, entre os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), 2017 deve marcar o relançamento do mercado moçambicano, Basta, para isso, que “a construção da infra-estrutura do projecto do gás natural avance no primeiro semestre deste ano”, como está planeado e as perspectivas de crescimento podem até ser mais animadoras do que as do mercado angolano. Vítor Marques da Cruz diz ser “um grande crente da explosão económica de Moçambique”. E nem a falha do pagamento da dívida abala a confiança. “Não é surpresa que o país não tem dinheiro, é assim há muitos anos. A maioria das pessoas vê na falha do pagamento uma tragédia, mas os investidores, pelo menos os que já estão no terreno, não vêem assim”, destacou. O trunfo é o gás natural.
O advogado lembra que “as previsões de subida do preço do gás são quase unânimes” e, tratando-se de um investimento a médio e longo prazo, os investidores apostam no preço previsível. “Moçambique tem capacidade de desenvolvimento muito grande. Se, do ponto de vista político, houver bom senso na condução dos negócios grandes, ou seja, se não se impuserem tantas restrições ao investimento estrangeiro, a economia vai prosperar”, afirmou.
Há já muitas empresas portuguesas a deslocalizar-se de Angola para Moçambique e há “todo o tipo de oportunidades”, desde a agricultura, à construção, às infra-estruturas e aos serviços. “O mercado moçambicano precisa muito de se desenvolver”, salientou. Há “sempre um risco, como em qualquer mercado africano em vias de desenvolvimento”, aponta. O maior é a instabilidade e os conflitos entre a Frelimo e a Renamo, que pode ser atenuada pela perspectiva de um desenvolvimento “de facto, de uma vez por todas”. Quanto ao mercado brasileiro, entende que este não é mais seguro do que o moçambicano ou o angolano, como consequência da “burocracia e da corrupção”. Mas embora veja como “muito complicado” fazer negócios no Brasil, há uma vantagem sobre os mercados africanos: “Quase todos os aspectos do investimento estão regulamentados. O problema é que as realidades política e económica são diferentes. O Brasil deixou-se arrastar por uma imagem externa de corrupção.” O advogado elogia, ainda assim, a “capacidade de recuperação invulgar”, que vai permitir “atrair investimento e desenvolvimento muito em breve, já a partir de 2017”.
Dados do Banco Nacional de Angola (BNA) apontam que o investimento directo estrangeiro em Angola caiu mais de dez mil milhões de dólares norte-americanos de 2014 para 2015, fruto da crise provocada pela quebra nas receitas petrolíferas, segundo um relatório do banco central a que a agência Lusa teve acesso.
O relatório do BNA, concluído recentemente, refere que o investimento directo líquido estrangeiro “foi deficitário” e situou-se em 8.235 milhões de dólares em 2015, contra o saldo superavitário de 2.331 milhões de dólares do período homólogo de 2014.

Escritório em Luanda

A MC Valois e Miranda nasce da união entre a MC&A e o escritório brasileiro SVMFA. É a consequência de uma “relação pessoal e profissional de muitos anos” com Paulo Valois e Rogério Miranda, os dois sócios no Brasil. A nova sociedade vai estar presente em Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Arranca com 500 clientes e uma estimativa de crescimento de 15 por cento. “ A ideia é que trabalhem connosco em várias áreas”, explicou Vítor Marques da Cruz.


Jornal de Angola, 06-03-2017

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