Angola já não é vista como o ‘El Dorado’ do investimento a curto prazo. Mas, se nada travar o projeto do gás natural, 2017 será o ano de Moçambique.

O ano de 2017 deve marcar o relançamento do mercado moçambicano e para isso basta que “a construção da infraestrutura do projeto do gás natural avance no primeiro semestre deste ano”, como está planeado e as perspetivas de crescimento podem até ser mais animadoras do que as do mercado angolano. A previsão é de Vítor Marques da Cruz, sócio fundador do escritório de advogados MC&A, que agora integra a aliança internacional MC Valois Miranda, presente em vários mercados africanos, em Portugal e no Brasil.

Marques da Cruz analisa os grandes desafios enfrentados por Angola, Moçambique e Brasil – os três mercados mais importantes para a MC Valois Miranda “em termos de dimensão do negócio, económicos e de população” e considera que, sobre Angola, apesar da crise que o país tem atravessado, “o interesse dos investidores parece não ter diminuído”. Até a “situação da moeda” – a insuficiência de divisas para fazer pagamentos em outras moedas, além do kwanza – permitiu fazer uma “triagem” que resulta “num investidor melhor”. Para o advogado, a crise “separou os que viam Angola como o ‘El Dorado’ onde podiam ganhar dinheiro a muito curto prazo, dos que têm interesse efetivo em desenvolver um negócio a médio-longo prazo”.

Para o mercado angolano, 2017 pode ser o ano dos investimentos “em áreas que até agora têm sido descuradas”. É um país sobretudo importador, mas a tendência pode ser contrariada “desenvolvendo outras áreas, sobretudo a indústria e a agricultura”. Para Marques da Cruz, Angola poderá inverter a balança comercial. Mas a transição levará “entre cinco a dez anos a ter um efeito expressivo na economia”.

Em relação a negócios com Portugal, o advogado diz-se pouco otimista: “As empresas portuguesas foram das que mais investimento fizeram em Angola e as primeiras a chegar depois da guerra civil. Mas também foram as primeiras a pagar o preço da instabilidade financeira e da crise das divisas.” Foram muitas as empresas, “para não dizer praticamente todas”, que perderam dinheiro. Talvez por isso o mercado angolano tenha deixado de ser “um favorito” dos investidores portugueses.

Em relação a Moçambique, Marques da Cruz diz-se “um grande crente”. E nem a falha do pagamento da dívida abala a confiança. “Não é surpresa que o país não tem dinheiro, é assim há muitos anos. A maioria das pessoas vê na falha do pagamento uma tragédia, mas os investidores, pelo menos os que já estão no terreno, não veem assim”. E o trunfo é o gás natural. Marques da Cruz lembra que “as previsões de subida do preço do gás são quase unânimes” e, tratando-se de um investimento a médio-longo prazo, os investidores apostam no preço previsível. E explica que Moçambique “tem uma capacidade de desenvolvimento muito grande”, superior à de Angola: “Se do ponto de vista político houver bom senso na condução dos negócios grandes”, ou seja, se não se impuserem tantas restrições ao investimento estrangeiro.

Há já muitas empresas portuguesas a deslocalizar-se de Angola para Moçambique e há “todo o tipo de oportunidades”, desde a agricultura, à construção, às infraestruturas e aos serviços: “O mercado moçambicano precisa muito de se desenvolver.” Há “sempre um risco, como em qualquer mercado africano em vias de desenvolvimento”, aponta. O maior é a instabilidade e os conflitos entre a Frelimo e a Renamo, que pode ser ajudada pela perspetiva de um desenvolvimento “de facto, de uma vez por todas”.

Já quanto ao mercado brasileiro, entende que este não é mais seguro do que o moçambicano ou o angolano, consequência da “burocracia e da corrupção”. Mas embora veja como “muito complicado” fazer negócios no Brasil, há uma vantagem sobre os mercados africanos: “Quase todos os aspetos do investimento estão regulamentados. O problema é que as realidades política e económica são diferentes. O Brasil deixou-se arrastar por uma imagem externa de corrupção.” O advogado elogia, ainda assim, a “capacidade de recuperação invulgar”, que vai permitir “atrair investimento e desenvolvimento muito em breve, já a partir de 2017”.

MC Valois e Miranda. Aliança luso-brasileira

A MC Valois e Miranda nasce da união entre a MC&A e o escritório brasileiro SVMFA. É a consequência de uma “relação pessoal e profissional de muitos anos” com Paulo Valois e Rogério Miranda, os dois sócios no Brasil. A nova sociedade estará presente em Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Arranca com 500 clientes e uma estimativa de crescimento de 15%. “Não haverá uma transferência de clientes, mas uma partilha A ideia é que trabalhem connosco em várias áreas”, explicou Vítor Marques da Cruz.


DN_JN_Dinheiro Vivo, 04-03-2017

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